Por Que Seu Fone Não É Flat
- Fabio Henriques

- 18 de ago.
- 3 min de leitura
(E Por Que Não Deveria Mesmo Ser)
Quando a gente fala em monitoração, existem na verdade duas abordagens. A gente pode focar no jeito com que o som é transmitido pelo transdutor (a resposta dos falantes, quer sejam caixas de som ou headphones), ou pode verificar de fato como o som chega a nossos tímpanos.
Não existe mix/master sem que alguém ouça. Se a gente extrapolar um pouco, pode até concluir que as mixes e masters só existem dentro do cérebro do ouvinte, depois de terem percorrido todo o caminho entre a fonte e nosso sistema auditivo.
Então, quando se fala em “monitores flat”, estamos falando de como o som SAI dos monitores. Só que principalmente nos headphones, é preciso que nos preocupemos em como o som CHEGA em nossos tímpanos. Obviamente existe uma diferença entre as duas situações. Um som que sai flat de um monitor tem que interagir com uma sala – muitas vezes sem tratamento algum – e também com o corpo do ouvinte, com a cabeça, as orelhas e o canal auditivo.
Se a gente observar como é a resposta levando isso tudo em conta, teremos algo parecido com isso:
Essa curva aí de cima é a resposta em um simulador como esse:

Então o que chega no tímpano não é teoricamente flat mesmo. E é assim que ouvimos desde que nascemos.
Onde Está o Problema?
Isso tudo seria apenas uma constatação se não houvesse um problema fundamental: quando se ouve de fones, elimina-se a ação desses fatores externos, com o som sendo entregue diretamente ao canal auditivo. Então essa premissa de que um headphone precisa entregar uma resposta flat cai por terra.
Em 2012, dois engenheiros da Harman International, Sean E. Olive e Todd Welti publicaram um paper na convenção da AES, chamado The Relationship Between Perception and Measurement of Headphone Sound Quality , que inicialmente usou apenas seis modelos de fones, mas que acabou gerando vários outros estudos.Em todos eles, as curvas foram estabelecidas a partir da opinião de ouvintes.
A coisa foi tão bem feita e teve resultados tão positivos que logo a chamada “Curva Harman” virou uma referência de como os fones deveriam soar pra agradarem os ouvintes.
Então, segundo essa pesquisa, um fone que soasse "flat" e agradável teria não uma resposta de frequência retinha, mas uma que fosse desse jeito, com um reforço nos graves, um reforço maior ainda nas médias e um corte de agudos.
Outras Curvas
Mesmo com esses estudos científicos criteriosos, o consenso é que por mais que se deseje padronizar as coisas, principalmente nos fones, cada pessoa ouve de um jeito. As curvas representam apenas uma média, e refletem as condições dos testes.
Por isso, as curvas da Harman não são as únicas. Por exemplo, uma das mais famosas é a da Sound Guys – cujas informações são base desse texto, e outra é a da Rtings.com.

O Que É Um Fone "Flat"?
Vamos usar como exemplo um fone que tem uma resposta resultante bem plana (pelo menos acima de 100Hz) ,o Sennheiser HD-600.
Como é a resposta dele usando o padrão da Rtings?

E os dados da medida "crua", sem compensação?

Agora usando a curva da SoundGuys:

E finalmente usando a curva Harman IEM

E aí pode vir a pergunta:
- Afinal, em qual medição eu devo confiar?
Em todas e em nenhuma. Como dissemos, cada pessoa tem seu jeito particular de perceber a resposta em frequência, e além disso, pode haver variação de resposta entre exemplares de um mesmo modelo, ou até mesmo se a pessoa usa óculos ou não. . Então o que se recomenda é a medição comparativa entre os diversos modelos de fone.
A gente escolhe um padrão de medida, por exemplo, o Rtings, e compara as curvas de diversos modelos de fone. No geral, a sonoridade das curvas acaba se aproximando e isso passa a ser bem prático. O importante é não se preocupar muito com os dados crus da resposta em frequência, porque eles mostram um jeito de medir mas não o jeito como preferimos ouvir.








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